terça-feira, 24 de novembro de 2009

Por uma História Política - R.R

É importante por relacionar o advento, a queda e o renascimento da história política a partir de novas bases com as realidades vividas pelos historiadores de cada período, o que me remete ao texto de De Certeau e a história também como um lugar social.

As passagens mais interessantes relacionam o advento da história política tradicional com a importância que tinha o Estado durante o Antigo Regime, por exemplo, e que o Estado passou a ter mesmo com a queda do Antigo Regime, com a construção do Estado-Nação. De monarcas e cortes, o estudo da história política passou para a democracia, para revoluções e para as lutas partidárias.

E a sua queda? Também pode se explicar pela relevância que o econômico e o social tiveram durante a década de 30, ínício dos Annales.

E a volta? A noção cada vez mais óbvia de que o Estado aumentou suas atribuições, que a cultura, a economia, o ensino e várias outras áreas, dimensões da experiência humana atual são influenciadas por decisões políticas, pelo Estado.

"Se uma mudança de lei eleitoral tem o poder de modificar a expressão da opinião pública, como pretender que o político não tem interesse?"

O texto também é relevante por mostrar como é a nova história política. Deixa de ser impressionista, pois lida com séries de dados quantificáveis, como dados eleitorais e demográficos.

Não é mais uma história elitista, aristocrática, preocupa-se também com os homens comuns e com como eles se relacionam com a política e com os políticos profissionais. As eleições atuais, por exemplo, mostram como a política é democrática, pode ser democrática.

Também deixa de ser factual, de curta duração, preocupando-se com como estruturas de longo prazo, estruturas mentais, por exemplo, influenciam a política.

"Não vivemos ainda, com algumas exceções, num universo ideológico cujos principai componentes surgiram, e cuja configuração, no essencial, se desenhou antes da Revolução de 1848?"

Por fim, a história política renovada rejeita determinações e causas primeiras. O político pode se explicar pelo político como por outras dimensões. E as outras dimensões também pode ser explicadas pelo político ou explicar o político. É uma história multidimensional e multicasual.

História e Política - R.A

O papel do historiador e do homem de Estado é ver não apenas as estruturas, o que permanece, o que não pode ser alterado, como ver também aquilo que pode ser alterado, as mudanças, o que não permanece igual. O historiador deve investigar o passado em busca não apenas de mudanças, de um progresso incessante rumo a um final glorioso, como fazem os marxistas, tampouco ver a histórica como o eterno retorno do mesmo, de permanências, de estruturas que se repetem ao longo do tempo, sem novidades, sem mudança como fazem os conservadores. O historiador deve ser como o político ideal para o autor, o político progressista, que combina saudavelmente a duas atitudes acima, a de procurar sempre a novidade e a de ver o que é conservado e deve ser conservado por possuir qualidades. Assim, o historiador deve tanto ver as mudanças ao longo do tempo como as permanências e deve entender que cada período, cada época tem as suas possibilidades de mudança e suas impossibilidades. Não é tudo que pode ser feito em qualquer período. E também não é tudo que deve e pode permanecer como é.

Hebe Castro - História Social

O texto é importante por, primeiro, mostrar várias modalidades de história social, deixar claro que não existe apenas um tipo de história social, que várias com pressupostos diferentes foram realizadas ao longo do tempo e que a história social, como vista pelos historiadores, aquela influenciada pelos Annales, entrou em crise nas décadas de 70 e 80 e novas abordagens foram propostas.

Existe a história social praticada por alemães conservadores durante o século XIX, uma história preocupada com costumes, com a vida privada, com a cultura, enfim. Uma história com a política deixada de fora.

Existe a história social socialista, preocupada com os movimentos operários, suas formações, desenvolvimento e estrutura, preocupada com movimentos coletivos. Uma história com o indivíduo deixado de fora.

E a história social dos Annales, preocupada com os movimentos coletivos, as estruturas de longo prazo e a análise na história.

Porém, a história social dos Annales foi questionada em vários pontos: o estruturalismo não mata o indivíduo, a ação livre, o homem como sujeito da história? Os homens fazem ou sofrem a história? Para os críticos, é preciso olhar mais para como os homens podem escapar das estruturas, como podem agir mais ou menos livremente dentro de uma sociedade estruturada de tal ou qual forma.

O método quantitativo é tão desumano quanto. Preocupado apenas com longas séries, não fala sobre homens reais, vivos, fala apenas sobre números abstratos e genéricos.

É aí, então, que três novas abordagens aparecem: uma abordagem mais antropológica, preocupada em descobrir como os homens constroem culturalmente suas identidades coletivas.

A redução na escala de análise, a micro-história, que se preocupa justamente em ver como indivíduos se estabelecem em relação aos marcos estruturais, se existe ou não um espaço de liberdade, se eles podem ou não fazer a história e não apenas sofrerem ela, serem determinados pelas estruturas.

A autora cita também a mudança de perspectiva criada pela história vista de baixo, de Thompson. Preocupado com a cultura e o comportamento das classes mais baixas, em como faziam os acontecimentos e em como reagiam aos acontecimentos. Não era uma história apenas do movimento operário, mas de outras classes populares que não se organizaram necessariamente como movimento operário para derrubar o capitalismo e iniciar uma nova era social e política.

A autora conclui que a fragmentação da história social é um fato, que tal fato não permite mais que a história social seja considerada uma disciplina homogênea. Apesar de todas as diferenças, existem semelhanças essenciais, que marcam o que é uma história social e o que não é: principalmente, a preocupação com o coletivo, com o compartamento de identidades coletivas e como elas influenciam o andar da história.

História dos conceitos e história social

Primeiro, a história dos conceitos fornece subsídios para a história social, apresenta análises que tornam as análises da história social mais palpáveis e compreensíveis, é um auxílio ao que os historiadores sociais investigam, as estruturas que fazem parte de uma sociedade, os grupos que a ela pertencem e como elas mudam e quando. Analisando uma simples passagem de diário, Kosseleck mostra que quando a história dos conceitos usa os métodos da história social, chega a resultados interessantes do ponto de vista da história social, por exemplo, mostra que existe um conflito presente, um conflito que uma das partes pretende vencer transformando o futuro em algo novo, diferente do passado e que, assim, vemos que o passado ainda está no presente, que estruturas de longo prazo, originárias do passado, continuam a ter força e a exercer influência no presente.

Segundo, segundo métodos próprios, usando o aparato metodógico e estudando seus objetos, a história dos conceitos contribui para a história social compreender melhor seus objetos e suas conclusões. Existem algumas mudanças estruturas de longo prazo, por exemplo, que podem tornar-se visíveis com a ajuda de uma história pura dos conceitos, como no caso da mudança de significado de sociedade civil ao longo do tempo, partindo de um significado que não separa sociedade da política, pelo contrário, juntava os dois, entrelaçava sociedade e política e chegando ao significado atual, de uma sociedade apartada do Estado, do político, a sociedade burguesa.

É a perspectiva diacrônica a que mostra os vários significados de um conceito ao longo do tempo, as mudanças, as diferenças. A sincrônica é a que pretende trazer os significados antigos para o presente, tornar compreensíveis os significados de conceitos passados para os homens contemporâneos.

Portanto, a história social pode alcançar resultados satisfatórios caso use os métodos da história dos conceitos, caso a história dos conceitos seja aplicada de forma pura, analisando os conceitos ao longo do tempo sem se reportar aos conteúdos extralinguísticos imediatos.

A história dos conceitos também reflete sobre os fatos e como eles são apreendidos em conceitos. Sobre os processos históricos e como eles são apreendidos em conceitos. Em última análise, o fim da história dos conceitos é sempre material. Um processo, uma mudança pode ser apreendido por vários conceitos. Não é um fi em si mesma, a história dos conceitos. É uma parte metodologicamente autônoma da pesquisa social e histórica.

Por fim, é verdade que a história dos conceitos associa mudanças no significado, a diacronia, com mudanças sociais estruturas e permanências no significado com estruturas permanentes. Porém, não é sempre o que acontece. Alguns termos que mantém significado estável não indicam mudanças do ponto de vista da história dos fatos, da história social. Assim, um historiador social precipitado pode dizer que uma estrutura social se alterou pois um conceito x mudou de significado. O que não é sempre verdade. Portanto, a história dos conceitos está sempre relacionando mudança com permanência, estrutura com alteração.

O mais importante, porém, é que a história dos conceitos leva os historiadores a questionarem a utilidade e a abrangência dos próprios conceitos, dos conceitos que usam para explicar realidades passadas e que foram criados em outros tempos. Quando o historiador usa os conceitos do próprio passado para explicá-lo, a história dos conceitos também é útil. É útil pois mostra ao historiador qual o significado antigo daquela palavra e tenta traduzi-lo para o presente.

No caso do historiador que usa conceitos cunhados posteriormente ao período que analisa, a história dos conceitos é util por mostrar ou não a utilidade do conceito específico na compreensão do período. O conceito de Estado, por exemplo. Será que pode ser utilizado para qualquer época? O que ele quer dizer exatamente, o que quis dizer em épocas diferentes? Existe um núcleo comum que permita usar o conceito como explicativo em diversos momentos?

O que eu faria se estivesse na Universidade

Kosseleck é um historiador austríaco que apresentou duas categorias para compreender como o homem se orienta no tempo em qualquer período, em qualquer época. A primeira categoria, o espaço de experiência, designa todo o passado que é presente para um indivíduo específico ou para uma coletividade, tudo que é lembrado e, também, o que não é racionalizado e inconsciente. É o passado presente. A segunda categoria, o horizonte de expectativas, é o que o indivíduo espera que venha acontecer no futuro, suas esperanças, seus medos, suas angústias e desejos presentes em relação ao que ainda não aconteceu. É o futuro presente. São duas categorias universais, que organizam a experiência humana no tempo, condições necessárias para o próprio fazer históricos dos sujeitos. Não há história, não há ação que não seja influenciada por um espaço de experiência e um horizonte de expectativas.
São categorias universais, mas não são categorias que se relacionam da mesma maneira em qualquer período. A relação entre elas pode ser historicizada. Durante a Idade Média, por exemplo, andavam praticamente juntas, próximas. Os homens não esperavam do futuro nada de muito diferente do que tinham experimentado no passado e do que experimentavam no presente. Além do mais, a escatologia católica traça um limite para o horizonte de expectativas, assim, mesmo quando o indivíduo deixava-se pensar em um futuro muito distante, tinha o final dos tempos como limite.
Várias circustâncias alteraram a relação entre o espaço de experiência e o horizonte de expectativas na transição do mundo medieval para o mundo moderno. As viagens ultramarinas, por exemplo, trouxeram novas experiências e criaram novas expectativas para o futuro. A Reforma, que quebrou um espaço de experiência consolidado, o de hegemonia da Igreja Católica Romana. Copérnico, que também destroçou um espaço de experiência antigo, abrindo as portas para novas possibilidades, para um futuro diferente do passado. Finalmente, a revolução industrial expandiu a constante diferenciação, o distanciamento entre o espaço de experiência e o horizonte de expectativas para um público mais amplo. A síntese, a grande formulação conceitual deste distanciamento é a idéia do progresso. Hoje é melhor do que ontem e amanhã será melhor do que hoje. Kant é um dos grandes filósofos do progresso, e um dos objetivos de sua filosofia é provar que o amanhã não só pode ser diferente, como pode ser melhor do que hoje e ontem. Em suma, é característica essencial do período moderno, quase sua definição, a crença no progresso, na novidade como algo melhor do que o antigo. É o espaço de experiência se afastando, se distanciando de um horizonte de expectativas cada vez mais amplo, cada vez mais carregado de desejos e de esperança. No mundo político, a Revolução Francesa seria o grande marco histórico do progresso, do afastamento entre experiência e expectativa. A partir das reflexões de Kosseleck, e por ainda estamos no mundo moderno, é justo especular que ele ainda tinha o mundo contemporâneo como imerso nesta diferenciação, nesta separação quase radical entre espaço de experiência e horizonte de expectativas. No entanto, julgo ver algumas sintomas, sinais de que a sociedade atual começa a novamente alterar esta relação. Vejamos dois sintomas que julgo essenciais para meu diagnóstico, dois livros, um de ficção e um de história. O primeiro, Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley. O segundo, a economia moral da multidão inglesa do século XVII de Thompson. Os dois, ao meu ver, mostram incontestavelmente que há, no mundo atual, no seio das sociedades contemporâneas, uma angústia, uma preocupação com o futuro que inverte a idéia de progresso, inverte a noção de que o futuro será melhor do que hoje e totalmente diferente. O dois dizem, e explicarei logo como, que o futuro será parecido com hoje, só que pior, com tudo que hoje tem de ruim amplificado.
Vejamos o caso de Huxley. Descreve um mundo horrível, em que tudo que é visto como progresso científico em sua época, quando Huxley escreveu o livro, é apresentado de um ponto de vista negativo. Em que o homem deixa de ser livre, em que é completamente dominado pelo Estado e suas técnicas científicas para melhorar a sociedade e os homens. O que Huxley quer dizer, sua mensagem, é que tudo aquilo visto como progresso técnico e científico pelo homem do seu tempo é uma maldição e tornará o futuro uma tragédia, uma prisão. Assim, Huxley não só não compartilha do entusiasmo de Kant com um futuro melhor e diferente, como também diz que o futuro não será muito diferente do que já aconteceu no passado, das experiências adquiridas, e das experiências do presente. Será apenas um passado presente amplificado. É um pessimismo, uma negação do progresso que leva Huxley a apresentar, como solução, uma volta ao passado, uma revalorização de atitudes antigas, que desapareciam no mundo presente, como a descentralização do poder e leituras humanistas. Portanto, o livro de Aldous é um sintoma de uma revalorização de um espaço de experiência e tentativa de aproximá-lo novamente do horizonte de expectativas. O passado também teve coisas boas, utilizáveis e que devem ser mantidas e, por terem desaparecido do mundo atual, devem ser restaurados no futuro, no horizonte de expectativas.

O estudo de Thompson não é muito diferente. Ao estudar o que chama de economia moral da multidão inglesa do século XVII, Thompson estuda, como ele próprio diz, uma forma diferente de relação entre os agentes econômicos, entre produtores e consumidores, do que a postulada pelos economistas clássicos e liberais do século XX e que norteiam até hoje a economia mundial. É uma economia que não permite tudo ao produtor, que não dá a ele liberdade total para fazer o que bem entender com o que produz, para conseguir os melhores preços. Ele teria uma obrigação com os camponeses locais, obrigação de vender primeiro para eles e por um preço que possam pagar. Diz Thompson que seu estudo não é necessariamente uma fórmula para reformar a economia do presente, mas é uma indicação, uma aviso de que o homem econômico, sempre em busca de maximizar os seus ganhos, é uma invenção do século XIX, invenção nefasta que influencia o mundo contemporâneo e que traz consequências desagradáveis, como pobreza e fome e, portanto, caso continue a ser aplicado, não trará progresso e riquezas como dizem seus defensore, mas mais fome e mais pobreza. Portanto, Thompson traz uma experiência antiga para o presente, amplia o espaço de experiência para aproximá-lo do horizonte de expectativas. Faz como Huxley. Vê o horizonte de expectativas como negativo, com pessimismo. E, para mudar, para reformar o futuro, para melhorar o horizonte de expectativas, seria interessante aproximá-lo de experiências passadas.

Em conclusão, o mundo moderno está desaparecendo. A crença inabalável no progresso, na constante melhora do mundo não sumiu, mas sofreu tremores. E se, como diz Kosseleck, a idéia de progresso é a sintese, o sinal de que, no mundo moderno, a relação entre as suas duas categorias, o espaço de experiência e o horizonte de expectativas se separaram de uma forma nunca antes vista, com o espaço de experiência sendo sempre diferente e pior do que se espera no horizonte, podemos dizer que a relação entre as duas categorias muda quando a crença no progresso muda. Quando dois autores importantes, Aldous Huxley e Thompson, deixam de acreditar no progresso, deixam de atuar no tempo e de interpretá-lo da forma como a idade moderna fez. Mudam a relação entre espaço de experiência e horizonte de expectativas. As duas propostas, como vimos, são de resgate do espaço de experiência, de uma reaproximação entre as duas categorias. Para melhorar o futuro, precisamos torná-lo um pouco mais parecido com o passado.